segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Um dia não são dias

Amanhece! Discretamente, o sol rompe pelas ranhuras da persiana. A sua luz toca-me nos olhos, e muito suavemente vou acordando. Mais um dia começa! Um novo despertar cheio de supresas. O que este novo dia me trará? A dúvida invade a minha paz, e de repente, acordo! Abro os olhos e olho em meu redor. O que há poucas horas era um quarto sem luz, escuro e sombrio, agora se transforma no mais radiante dos lugares. O único onde verdadeiramente me sinto dono e senhor de mim próprio. Mas não por muito tempo.
Sem ter consciência do que me espera, levanto-me, faço todos os preparativos para a saída daquele lugar pacífico, sereno, e enfrento o mundo lá fora sem medo! Eu vou!
O pequeno-almoço é o costume: uma tigela de cereais com leite. A televisão mostra as desgraças que se passam no mundo. E estão cada vez mais perto de mim! Não posso desanimar e desistir assim tão facilmente, e por isso continuo com o planeado: Sair de casa!
No estacionamento o vizinho, à pressa para as suas responsabilidades, coloca o filho no carro, põe-lhe o cinto, fecha a porta, dá a volta, entra no carro e abala, mas não sem antes me acenar com a cabeça, como quem diz "Bom dia". Eu aceno em resposta e continuo caminho para o meu carro que me espera, impacientemente, desejoso de sair do sítio onde passou mais uma friorenta noite de Inverno. Entro no carro, e antes de fechar a porta, a minha vizinha: "Bom dia, vizinho!". "Bom dia, vizinha!", respondo com um sorriso em resposta ao simpático e aparentemente sincero sorriso dela.
Mas espera! Também eu tenho um filho. Que faço eu aqui? Há que voltar atrás, ir buscá-lo, e levá-lo à escola.
Aborrece-me imenso ir trabalhar, há outros assuntos pendentes, mas não há como fugir. Tem de ser! E lá vou eu!

A 'Sabelinha, que trabalha no café do Sr. Antunes, tira uns esplêndidos cafés, e é lá que vou antes das responsabilidades. Aquele sítio é como muitos outros, mas uma pessoa habitua-se aos sons, às caras, vozes, cheiros... É imperdível o som do moinho de café a moer os grãos, aquele cheiro, as vozes dos clientes: "Bom dia. É um café, por favor!", ou a Sabelinha: "Bom dia, Sr. Zé. É o costume?".
Bebo o meu! Leio os títulos do jornal. Acompanho com um cigarro. Infelizmente, cedo acordo para a realidade e ponho-me a caminho do inevitável, por muito que custe.
A estrada reflecte uma dolorosa claridade. Havia chovido durante a noite. Na berma da estrada dois carros batidos num aparatoso acidente. "Será que alguém ficou mal?" Mesmo que não me interessasse, sou obrigado a olhar, porque não há ninguém que não goste de assistir a uma pequena desgraça logo de manhã, para despertar. Desde que seja a dos outros! E olho. Os intervenientes do acidente encontram-se bem de saúde. Bem demais! Tenho os vidros fechados e a música ligeiramente estridente, mas mesmo assim ouço os gritos de um em direcção ao outro, e vice-versa, e assim continuam enquanto me afasto, lentamente, até porque não me deixam ir mais depressa. Cambada de curiosos sem vida própria!
O dia de trabalho começa sem novidades. As mesmas pessoas, o mesmo computador, os mesmo softwares, o mesmo tudo. Só a data ao canto do monitor me informa que algo está diferente.

São oito! São oito as horas que passam, por vezes devagar, outras mais depressa, o que não deixa de ser bom. No entanto, sem me dar conta, já tenho 30 anos e ainda ontem tinha 21.
Vou para casa, mas não sem antes passar pelo infantário buscar o míudo. Ali sim, é a azáfama da hora de saída. Todas aquelas crianças aos gritos, aos saltos, a brincar. Renova-me a esperança que um dia as coisas serão melhores, mais fáceis, mais simples, que algum dia foram para mim. Não que me considere um azarado, mas há certas coisas que não são fáceis, talvez para todos, mas eu não sou todos. Eu sou eu! A minha educação obriga-me a engolir sapos do tamanho de bois, mas não devia. Enfim... Levo o míudo à casa da mãe que é com ela que ele vive. Longe de mim separar uma criança da melhor coisa que pode ter: a mãe! Deixo-o lá e regresso à minha solidão. Tenho família e amigos. Posso sempre, depois do jantar, ir beber um café com alguns amigos, mas será suficiente?
Janto com a companhia do computador - engraçado como a evolução é. Há 60 anos a companhia de alguém era o parceiro ou parceira, desde há 20 anos que é a televisão e, hoje em dia, o computador. Há a Netflix, o YouTube, o Instagram, o Whatsapp... - Converso com alguns amigos e aí combino o café.

Saio de casa, mais uma vez encontro vizinhos pelo caminho. "Boa noite, vizinho!". "Boa noite!". Sempre com sorrisos de orelha a orelha que rapidamente se desfazem ao se afastarem. Não que se desgostem, mas também não há do que gostar, não nos conhecemos...
Lá fora chove desde o meio da tarde. Há já muitas horas que é de noite, mesmo que o telemóvel ainda marque 20h30. Apressadamente dirigo-me ao carro, abro a porta, entro. Fiquei completamente encharcado. Sacudo-me e coloco a chave na ignição. - Uma coisa muito importante dentro de um carro: a música! Tem de haver sempre música dentro do carro. E alta! De que outra maneira podia eu cantar em plenos pulmões sem me ouvir a grasnar?
Estaciono em local proíbido, mas o mais perto possível do bar onde nos vamos encontrar: eu, três amigos, e... ela! Ela vai lá estar. Havia confirmado a sua presença pouco antes de sair de casa, o que me deu mais algum ânimo e vontade de enfrentar a violência do vento e chuva que insiste em não cessar, causando pânico e distruição à minha volta. Mas sou egoísta e egocêntrico, e o sofrimento dos outros a mim pouco me diz. Já tenho o meu... e mesmo que não o seja, parece-me mais grave que qualquer outro.

Entro no bar. Pareço um pinto, o que me torna ainda mais sexy aos seus olhos, mesmo que a sua boca nada diga. Cumprimento toda a gente e sento-me à sua frente, mas não directamente. Isso seria muito mais constrangedor, dadas as circunstâncias. O namorado dela está ao seu lado e agarra-lhe a mão ainda com mais força à medida que me aproximo. Ouço o que conversam e começo a participar, lançamos piadas, rimos todos. Nenhum de nós sabe a infelicidade de vida que cada um dos outros tem, mas isso ali não é importante. O importante é o convívio e a boa disposição. Aquele curtíssimo espaço de tempo serve de escape à dura realidade que enfrentamos. Quando estamos ali, não queremos saber dos problemas dos outros, nem que os outros saibam dos nossos. Ali é para rir e falar de banalidades.
De repente sinto algo. O que é isto? Doi, mas... é bom! Sabe tão bem, mas... magoa! Um olhar perfurante, sensual... É discreto para todos menos para mim. É um desejo tornado realidade. Será? Será possível que ela esteja <de olho> em mim? Devolvo o olhar, mas não por muito tempo. Aquilo não pode estar a acontecer!

Um café, uma água das Pedras e três imperiais depois, estamos prontos para sair dali e rumar aos respectivos lares. Despedimo-nos uns dos outros muito rapidamente, excepto... ela! Quando nos vamos despedir com os  tradicionais dois beijos na face, demoramos mais tempo que o que seria normal, e ali ficamos, só encostados. Parece uma eternidade, no entanto passa tão depressa. Depressa demais. E acaba. Afastamo-nos em direcção aos carros e, quando estou a abrir a porta do meu, ouço o meu nome. É ela, e vem a correr para mim. O meu coração dispara e acelera para além do meu controlo. Os cantos da minha boca vão-se elevando, formando uma espécie de sorriso, num misto de felicidade e terror. Vê-la dirigir-se na minha direcção faz-me imaginar tudo aquilo que já havia desejado vezes e vezes sem conta. Um beijo! Um longo e molhado beijo entre nós. Antes de parar a sua marcha, ela abranda o passo, estica a mão direita, mas como está escuro, não percebo porquê. Penso que poderá querer abraçar-me, mas... Será? No que se aproxima diz: "Esqueceste-te do telemóvel". Esbocei o mais forçado dos sorrisos alguma vez visto e agradeci-lhe, enquanto o contacto visual se mantinha. E manteve-se durante o que pareceram horas. Aqueles olhos verdes contornados a preto, as longas pestanas, as sobrancelhas tão bonitas e bem arranjadas... Tudo à volta desapareceu, a minha visão afunilou para os mais lindos olhos alguma vez vistos, deixei de ouvir qualquer tipo de som ou ver qualquer tipo de imagem à minha volta. Só os olhos dela! Os carros passavam, mas só o sei porque já os tinha visto a descer a rua. De repente foi o nome dela que ouvi ao fundo do túnel, muito baixinho e, comecei a despertar. Outra vez o nome dela. Mas que raio?!!? Desta vez um pouco mais perto. À terceira foi de vez e ouvi a realidade daquele som que teimava em ser ouvido. Era o namorado dela que a chamava aos gritos no meio da rua, bem audível. Toquei-lhe no ombro e disse que tinha de ir. Também ela despertou do transe em que se encontrava, despediu-se com uma expressão de felicidade no olhar e afastou-se. Este foi sem dúvida, o momento mais constrangedor, alegre, feliz, assustador, aterrador, petrificante da minha vida.

Entro no carro, dou à chave, ligo o auto-rádio e vou-me. Cedo aquele acontecimento inunda a minha consciência, e fico a pensar no sucedido. Mas eu não quero pensar naquilo. É uma fantasia. Uma linda fantasia, mas sem o deixar de ser. Quero não pensar. Levanto o som. Ainda não chega. Mais um bocado. Não, ainda não. Mais, e mais, e mais, e mais, e mais... Até que já não noto diferença entre a música e o rasgar das colunas. O auto-rádio não dá mais, o som faz tremer as portas da frente e a chapeleira dos carro, onde moram duas potentes colunas, salta, toca no tecto do carro e volta para baixo, só para fazer o mesmo trajecto de novo. Aqueles olhos não me saiem da cabeça, então desisto. Momentos antes de me rebentarem os tímpanos, baixo o volume, e vou para casa a apreciar a música que me acompanha nas minha viagens, e a pensar na beleza feminina que me acompanhou numa noite de amizades, mesmo que ela própria acompanhada. E, apesar de tudo, sabe bem!

NOTA: Todo o conteúdo deste blog é da responsabilidade de um conjunto alargado de pessoas e respectivas atitudes, que sem muito esforço, conseguiram enlouquecer por completo o autor, provocando uma série de devaneios sem nexo, sem lógica e, definitivamente sem nenhuma razão de ser.


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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Nuvens

Nuvens!
Brasas incandescente que me encandeiam…
Pensamentos obscuros que me invadem o raciocínio lógico…
Chamadas anónimas no meu telemóvel…
Desenhos apagados em papel vegetal…
Vontade de nada, que não vacila…
Dores musculares incapacitantes…
Cadeira de três pés em que me sento…
Isqueiro sem gás…
Tudo isto são desconversas, gonorreias mentais de um insano, demente, alucinado. Devaneios provenientes do mais profundo dos sentimentos.
A frustração! O potencial do nada, o desequilíbrio psicológico sem história, a incógnita do que será o futuro, do que é o presente, e até mesmo do que foi o passado.
À falta de melhor temática, falarei do “Regresso às aulas”. Do não se saber do que falam. Do não saber para onde se vai. Do não saber de onde se vem.
Eu explico:
- Viemos de uma infância convenientemente camuflada por boas memórias, apesar da lembrança de alguns maus momentos.
- Falam de disparates que mais tarde muita falta vão fazer, muitos deles sem qualquer lógica aparente, outros pura e simplesmente sem nenhuma visível aplicação à vida real.
- Para onde vamos? Para um futuro que transborda de dúvidas, inconsistências e receios. Tudo com uma razão de ser: O simples facto de respirarmos!


NOTA: Todo o conteúdo deste blog é da responsabilidade de um conjunto alargado de pessoas e respectivas atitudes, que sem muito esforço, conseguiram enlouquecer por completo o autor, provocando uma série de devaneios sem nexo, sem lógica e, definitivamente sem nenhuma razão de ser.

domingo, 1 de setembro de 2024

Um dia não são dias II

lê a primeira parte

Ouço um latido ensurdecedor. Os cães do vizinho não podem sentir ninguém, e o camião do lixo muito menos, já que emite aquele irritante e característico apito. Mas é tão cedo e eu não quero sair da cama. Abro os olhos. Ninguém! Olho em volta, e mais uma vez estou completamente só. Não gosto, mas como já vai sendo habitual, não estranho. Viro-me para o lado e adormeço por mais cinco minutos, que é precisamente o tempo que leva para que o meu horrível despertador comece a tocar aquele estridente som que me parece uma orquestra de grilos a guinchar dentro da minha cabeça. Acordo.
O sol ainda não nasceu, mas já se nota alguma claridade no ar. Inspiro fundo, bem fundo, e só isso parece ser suficiente para ganhar forças e enfrentar mais um novo dia.

Do quarto à casa de banho é num ápice, porque esta é uma daquelas manhãs muito frias. Abro a torneira da água quente enquanto dispo o pijama. Já quase não vejo o meu reflexo no espelho graças à densa neblina que se acumula. É bom! Significa que a água está bem quente, como eu gosto.
De volta ao quarto sinto alguma dificuldade em escolher o que vestir. Hoje nada parece ficar bem com o meu pneuzinho. De onde é que isto veio? Há 10 anos não estava aqui! Tento não fixar o olhar, nunca se sabe se não poderá crescer se se sentir observado. A roupa! tenho 
 rapidamente de escolher a roupa, mas nenhuma cor me agrada, nenhum género me agrada, nenhuma combinação me agrada. Visto o normal: Preto em cima, azul em baixo, e está feito! Brincos a condizer, o mesmo fio de sempre, e perfume esse, o mesmo de sempre. Hipnotizada pela minha imagem no espelho, penso se será sempre assim... Imagino-me velhota, numa casa antiga, sozinha com 50 gatos que brincam todo o santo dia com as teias de aranha espalhadas pelos cantos. Estou sentada na minha velhota cadeira de baloiço perto da janela, a olhar lá para fora onde jovens casais se passeiam de mão dada, abraçados, apaixonados aos beijos. E eu, na minha escura solidão de décadas, acaricio a mais velhota das minha gatinhas.
Desperto do transe e poucos segundos haviam passado. Apago aquela triste imagem da minha cabeça e continuo os meus afazeres.

O meu pequeno-almoço é leve, aliás como sempre: uma peça de fruta, uma torrada integral e um café. O pneuzinho sorri na minha direcção, mas tenho que me alimentar. Alimento-me enquanto quase choro com as desgraças que passam na televisão logo de manhã. Tenho de ignorar ou ainda liberto uma lágrima e borro a pintura, mas o tempo está todo controlado. Contenho-me, limpo-me e retoco-a muito rapidamente. Se demorar muito tempo, ainda me atraso para o emprego, e isso seria o fim do mundo.
Ouço nas notícias que da parte da tarde há grandes possibilidades de ocorrência de aguaceiros, que é assim que eles falam. Não podiam só dizer: “Agasalhem-se moços, que vai chover!”? Talvez não! Depois não se percebiam uns aos outros. Vou ao armário de parede buscar o meu casaco e, à saída, pego o guarda-chuva.
Já na rua, debaixo de um sol abrasador, encontro o meu vizinho: "Bom dia, vizinha! De guarda-chuva? Com este calorão?" – "Bom dia. Disseram que podia chover", respondo intrigada por vê-lo de t-shirt, descontraido e despeocupado.
 Vou para o carro, tudo corre dentro do planeado. Pelo caminho encontro um acidente do outro lado da estrada. A fila está enorme do lado de lá, cheia de curiosos sem vida própria, que parece que não têm sítio para ir, a observar os destroços, quiçá à procura de cadáveres para que o dia lhes corra melhor enquanto pensam: "Ainda bem que não sou eu ali!". Os intervenientes do acidente estão fora dos carros em claras demontrações de masculinidade, libertando largas quantidades de testosterona, tanta que até lhe sinto o odor.

Chegada ao emprego, pico o ponto e vou para o meu gabinete, enquanto aprecio todo aquele alvoroço matinal. Recebo montes de "Bons Dias", e outro tantos desejos de bom trabalho. Penso que será porque sou nova aqui. E até estou a gostar de cá estar, não fosse o facto de andar cronicamente aborrecida. Sinto a falta de algo, mas o quê?
A manhã passa rápido. Andei sempre atarefada. O almoço hoje é sandes de galinha e um néctar de pêssego. Se há coisa que me aborrece é cozinhar, especialmente só para mim.
No snack-bar, a D. Adelaide faz das suas. Vai dizendo as suas piadas e pregando as suas partidas enquanto serve a clientela, que ri a bandeiras despregadas. Observo aquilo e pergunto-me porque não sou assim tão bem disposta. Porquê? Se há alguns (não muitos) anos, eu o era? Tinha boa disposição e humor para dar e vender, mas hoje, não. Eu quero, mas não consigo, o que me deixa ainda mais triste.
De regresso ao gabinete. Mais quatro horas de papelada para despachar. Recebo um SMS. É um amigo a convidar para um copo logo à noite. Respondo prontamente que sim, até porque, para além de gostar da sua companhia, não tenho nada mais interessante para fazer.
Lá fora chove a cântaros, tal como anunciado. Na minha cabeça, o meu vizinho, de t-shirt, encharcado, a tremer de frio. Liberto uma audível gargalhada. As pessoas em meu redor olham para mim com indignação estampada na face. Coro e afasto-me graciosamente, só para rir mais um bocadinho. Há que aproveitar estes momentos. Têm sido raros.

Findo mais um dia de trabalho, apresso-me a ir para casa. Tenho de tomar mais um banho, escolher a roupa, os acessórios, o perfume, a disposição. Isto são coisas que levam o seu tempo.
Estou despachada. Levo companhia, claro. Não posso ir sozinha, e sempre que pode, ele faz-me companhia nestas saídas. "Vamos?", pergunto. "Não sei. Vê lá. Se ainda não tiveres atrasada o suficiente, posso esperar mais um pouco!" - diz o cabrão, num tom que nada me agrada. Vamos! Tivemos sorte. Conseguimos estacionamento mesmo em frente ao bar. Entramos. O meu amigo já lá está à nossa espera. Sentamo-nos. Ele trouxe outro amigo e diz esperar mais um. O meu coração acusa qualquer coisa. De repente e do nada, ganha vontade própria e quer saltar-me pela boca, parece querer fugir dali para fora. Engulo-o para que regresse ao seu lugar. Mesmo assim, está louco. Salta, salta, salta.

Ele também vem e... eu estou cá, e... como reagirei? Tenho medo! Estou aterrorizada, começo a aquecer. O suor escorre pelas costas. Eu sinto. Na esperança que ninguém tenha notado, finjo procurar algo na mala enquanto, muito discretamente, dou profundas inspirações, na tentativa de me acalmar. Passou. Por fim acalmei.
Ouço a porta a abrir. Alguém está para entrar. E entra. É ele! Fixo o olhar nele e nem reparo que está completamente encharcado do temporal lá fora. Pareceu uma eternidade, vê-lo entrar, sacudir as gotas do cabelo, despir o casaco, pendurá-lo e dirigir-se para a minha mesa com os olhos fixados em mim. Por outro lado, tudo me pareceu tão rápido. E foram tão rápidos os dois beijos na face que ele me deu. Sim, dois! Embora o meu desejo fosse só um, mas não na face... O meu amigo aperta-me a mão para que não transpareça tanto interesse. Dói. Que é o que me faz tomar consciência do ambiente. 
Bebo um chá, conversamos um pouco os cinco e olho para ele. Ele olha para mim. Sinto-me constrangida, mas não consigo desviar o olhar. Eu quero, mas não consigo. Nem ele! Porque será que me olha assim? Será que sente o mesmo que eu? A dúvida fica a pairar no ar, e desespero...
O tempo passou mais rápido que o desejado, pelo que, à hora de irmos embora, não consigo esconder o meu ar de desalento.
Ele levanta-se, despede-se e sai. Observo enquanto ele se afasta, com um enorme desejo de ganhar coragem para o interpelar e pedir-lhe que não vá, e fique comigo. Mas isso não acontece e ele desaparece para além da porta de saída. Nós também nos vamos retirar. Estamos à porta do bar quando, do nada, aparece o empregado empunhando um telemóvel: "É vosso?", pergunta. "É do nosso amigo", digo eu! E sem que ninguém pudesse evitar, arranco-lhe o telemóvel das mãos e começo a correr no sentido em que ele se dirigiu, na esperanças de ainda o encontrar. Vejo-o! Chamo pelo seu nome bem alto para que não ouse não ouvir. Ele ouve e vira-se para mim com o mais lindo dos sorrisos. Acalmo, e enquanto me aproximo, estendo-lhe a mão com o telemóvel, na esperança que a recompensa fosse um ofegante e profundo beijo. Mas não! Ao invés disso, ficamos embasbacados a olhar um para o outro durante horas. Durante esse tempo consegui contornar todos os traços da sua face, nariz, boca, com os meus olhos. É tão lindo!!!!!
De repente, sinto um arrepio na espinha. Ele tocou-me no ombro. Desperto e ouço um grito! Era o meu nome. Não se passaram horas, mas poucos segundos, e o meu amigo chamava o meu nome. Tinha de ir.
A minha companhia fala comigo, mas a única coisa que consigo fazer é olhar para ele com o mais estúpido dos sorrisos. Ele ri-se!
Enquanto me dirigo para casa, levo no pensamento a imagem de perfeição daqueles lábios. E penso, desejo, voltar a reencontrá-lo e esperar que um dia aconteça. Que um dia aconteça aquilo que senti que também ele quer, mas que, por alguma razão não o conseguimos.

Em breve a terceira parte...

NOTA: Todo o conteúdo deste blog é da responsabilidade de um conjunto alargado de pessoas e respectivas atitudes, que sem muito esforço, conseguiram enlouquecer por completo o autor, provocando uma série de devaneios sem nexo, sem lógica e, definitivamente sem nenhuma razão de ser.

sábado, 17 de agosto de 2024

Sunga

   

   Sungas. Estou a pensar em sungas.
   Não! Não dessa maneira! Da maneira em que será que um homem a olhar para outro (de sunga, não esquecer), pensa: "hum... o que me ficava mesmo bem era uma sunga". Talvez, senão já não se usava. E se assim for, de certeza que foi uma mulher que inventou o calção de banho masculino.
   Não imagino ninguém, mas ninguém a olhar para um homem de sunga larga atrás e justa à frente, a agachar-se para apanhar uma concha sem imediatamente afastar o olhar com um bocadinho de vómito na boca. E o agachamento não é com os joelhos, não. É de cu espetado, mesmo à minha frente.
   É sexy, é maravilhoso, é inesquecível!


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